Cada dia aprendo mais contigo.

Antes de continuar com a minha odisseia, até chegar à semana da Moda Moçambicana, ocorreu-me que não falei ainda das pessoas muito importantes que me acompanharam, que estiveram do meu lado desde que me encontrei na moda.

Tenho momentos, como estas longas noites silenciosas que passo, sentada a trabalhar e a tentar criar algo novo para trazer beleza às minhas criações, em que uma esperança vã me aquece o coração, mas esbate o meu ânimo.

Sou tão insegura, gosto de ter a certeza de que estou a fazer as coisas da maneira certa, que estou a fazer o correcto. Não tenho medo de fazer o que quero, mas tenho medo de errar a meio do caminho e não ter volta atrás.

Quero criar coisas novas, quero conhecer, aprender, aprender e faço-o todos os dias, sim com ajuda, mas há coisas, pequenas coisas, que faço aqui no meu "atelier" particular (ainda), e sinto falta da palavra dela.

Sempre podia virar-me para ela, ir sentar lá à casa um dia, e pedir ajuda para pôr uma ideia em prática. Na verdade, senti a falta dela em todo o processo de decisão, desenho, criação, execução da minha colecção. Senti a falta dela para me dizer "ah isto está bem, mas podias acrescentar isto, ou podias fazer assim para ficar mais bonito"...

Senti a falta dela para me ajudar a colocar minhas idéias no papel, mostrar que as coisas são bem mais fáceis do que aparentam na minha cabeça.

Sinto a falta dela para aprender sempre algo novo, porque em toda a minha infância e adolescência, ela esteve aí, presente. Ela me ensinou tanta coisa, ela me ensinou a trabalhar com as mãos, a expressar algo que eu ainda nem conhecia.

Ela ensinou-me a entender-me com a arte, ensinou-me que um trabalho feito com as próprias mãos tem muito mais valor, ainda que não esteja perfeito, foi feito com o coração.

Ensinou-me que de arte se pode encher o coração de alegria, e expôr esse nosso lado não faz mal, não nos torna mais vulneráveis ao mundo, pelo contrário - Agora eu sei!! - torna-nos mais fortes.

Ela mostrou-me que a arte, quando nasce connosco, só existe quando a fazemos viver em nós.

Ocorre-me que hoje faz um ano e três meses que partiste para outra aventura, mas a tua presença a cada vez que passo a linha na agulha, e faço uma arte qualquer, ou quando olho para as mil velinhas que fiz, ou a pintura tua que tenho ao lado da minha porta, e a cada vez que saio do meu quarto, lembra-me que foi graças a ti que eu passei a acreditar na minha arte, no meu talento, minha fé, acima de tudo.

À Carla Rodrigues

Gostaria de te agradecer por tudo o que fizeste por todas as pessoas que conheceste e tocaste com a tua presença durante toda a tua vida, e que ainda hoje tocas, porque nunca te recusaste em ensinar tudo o que sabias. E no passado dia 7 de Dezembro, eu gostaria muito que tivesses lá estado para veres a realização de um sonho tão antigo, mas tão vivo.

Assim, eu acredito que de ti tenho um pouquinho em mim, e em cada coisa que eu fizer no mundo da arte, hoje, amanhã e toda a minha vida, sempre terá uma lembrança tua, ou uma lição que me ensinaste.

E acho que em primeiro lugar, eu queria agradecer a ti por tudo que me ensinaste, por tudo o que sei, por teres acreditado em mim, mesmo quando eu não acreditava. 

Obrigada.

E saudades.